Celebração do lançamento do livro “O Santuário – Ensaios sobre Eco-Mitologia”
Prefácio de Ana Alpande
Edições Mahatma
Alquimia – Sol Negro
Pertinho do solstício de inverno deixo-vos um pouco do que escrevi no livro do Santuário sobre Alquimia e o Sol Negro.
Em alquimia o Sol Niger, sol negro, refere-se à primeira fase da opus alquímica magnum, o nigredo, o escurecimento. O seu simbolismo é profundo e, entre outras coisas, está associado à sombra da psique.
Tomamos aqui o vasto tema da alquimia pela lente da fascinante fertilização cruzada de tradições em diversas partes do mundo, intersecções que destroem qualquer narrativa binária, revelando outras formas mais complexas, descentralizadas e dinâmicas do conhecimento em fluxo. Aqui experimentamos tanto cruzamentos da Cabala, Hermetismo e misticismo cristão europeu, como também as fertilizações e legados do pensamento grego e árabe, e formas de alquimia chinesas, indianas, árabes e europeias. Assim como o latente, mas invisível, legado primevo, animista, xamânico e extático das Comadres.
A etimologia de Alquimia vem de kami do egípcio-cóptico, e chemi que significa negro, a Terra negra. As raízes da alquimia residem supostamente no Egipto helenístico numa mistura de conhecimento sobre metalurgia, farmácia e fabrico de vidro, combinado com práticas filosóficas de teorização sobre o mundo. Na alquimia árabe, a metamorfose material, fala da tentativa de mudar metais, transformando-os em elixires ou mesmo ouro. Estas práticas proto-laboratoriais são consideradas o berço da química e farmacologia modernas. Já no século XX, Jung resgatou o lado arquetípico e sublime da alquimia como viagem de resgate da Alma.
Mas, é importante traçar algumas linhas entre a alquimia e as mulheres. As mulheres, chamadas sábias e muitas vezes consideradas charlatãs, tratavam as suas comunidades com uma mistura de conhecimento mineral, herbal e cíclico, sendo conhecedoras de propriedades medicinais, perseguidas e mortas devido à sua sabedoria e aptidão. Durante a Idade Média, ao contrário das bruxas, curandeiras, parteiras e herbalistas, a alquimia tinha um elevado estatuto e os seus praticantes eram homens. É preciso recordar que, por não terem desenvolvido ou pregado uma doutrina contrária à da Igreja vigente, os alquimistas nunca foram vistos como hereges. A maioria dos alquimistas tinha valores religiosos bastante convencionais e não eram arrastados nem queimados nas fogueiras da Inquisição. Hoje em dia é aceite que as bases do conhecimento científico, químico e farmacêutico surgem da alquimia, uma prática essencialmente masculina. Mas a bruxaria, e todo o trabalho de química do herbalismo feminino é herege e apenas superstição ignorante e iletrada. Sem pensarmos muito sobre isso, os nossos mitos dualistas modernos assumem que uma coisa é o conhecimento puro da alquimia, mesmo com todas as suas camadas e concepções da época, e a outra são as bruxas ignorantes. O primeiro como base do conhecimento moderno científico, químico e farmacêutico e o segundo não serviu para nada, pois era apenas conhecimento iletrado e supersticioso.
A igreja via a consciência feminina como uma espécie de resistência passiva que minava gravemente a sua autoridade e qualquer mulher que curasse com ervas ou perto da natureza poderia ser acusada de praticar artes proibidas. Tudo o que fosse feminino era suspeito.
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🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência.
Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.