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Um conto fundo que fabula o mito primevo das virgens negras em território ibérico.

Fabulação eco‑mítica da Virgem Negra em território ibérico

A Lenda da Terra que se fez Morena

Entre o Douro e o Guadiana

Contam os velhos que, antes das igrejas terem nome e das fronteiras aprenderem a fechar, a terra falava em línguas misturadas e os rios respondiam uns aos outros como parentes afastados.

Dizem que foi nesse tempo que duas mulheres de pele escura caminharam pela Península como quem percorre o próprio corpo.

Contam os velhos que a morena Guadalupe não veio do sul, mas do norte. Nasceu no alto da ravina dos lobos, lá onde o Douro começa sem nome, e ainda é água estreita, fria e feroz, aprendendo a ser rio entre pedra viva e uivo. Ela própria era o rio do miolo, o que corre por dentro. Onde pousava o pé, a terra afundava um pouco, como se reconhecesse um ventre antigo. As suas mãos cheiravam a água velha, a musgo sombrio, a leite de cabra aquecido em panela de barro. Os lobos uivavam-lhe como quem chama a irmã mais velha. E foi do vale fundo, onde o rio se esconde entre pedras negras, o rio dos lobos, que ela desceu, em pele escura como xisto molhado, olhos fundos como nascente anciã. No seu caminho para sul, por donde passava, a água ficava mais fria e mais densa, como se guardasse segredos. 

Já a trigueira Di-Ana veio do sul, do rio grande que nasce selvagem, lá onde a terra se rasga e o vento uiva como bicho sem dono. Chamavam-lhe Ana, mas os mais antigos diziam Di-Ana, porque o seu corpo era passagem entre lua e caça, entre sombra e sede. Onde ela bebia, a água ganhava memória; onde dormia, os sonhos ficavam presos às raízes. Era filha do Guadiana, rio sagrado e largo, que corre como veia anciã entre terras quentes e fundas. Era deusa e passagem, constelação e caminho, ventre e lâmina. O seu rio ensinara-lhe a persistência e o desvio. Quando chegou ao Pulo do Lobo, não hesitou: deixou-se cair com a água pelas pedras, morreu um instante e passou para a outra margem, seguindo depois para norte, como quem cumpre promessa antiga. 

Guadalupe e Di-Ana não se procuraram. O mundo é que as trouxe uma à outra. Não foi no salto nem na queda que se encontraram. Foi a meio da Península, onde a terra abranda e escuta, na Ribeira de Lucefécit, no lugar de pedras retintas e água escura, onde o sol entra baixo e o chão guarda memória moura. Ali, a ribeira corre curta, mas densa, como palavra dita ao ouvido. Dizem que as pedras desse leito são tão antigas que sabem os nomes esquecidos dos rios.

As velhas parteiras ainda lembram os três sinais que precederam o encontro, como manda a terra antiga:

— Primeiro, os lobos deixaram de caçar por três noites e ficaram a uivar.
— Depois, as pedras do leito enoitaram ainda mais, como se tivessem sido queimadas por dentro.
— Por fim, uma erva amarga, que só nasce em fendas, abriu flor fora do tempo.

Quando Guadalupe chegou do norte e Di-Ana subiu do sul, a água reconheceu-as antes dos olhos. A ribeira engrossou sem chuva, as pedras suaram, e os lobos, espalhados pelas serras, calaram-se todos ao mesmo tempo. Ali sentaram-se as morenas, uma vinda da ravina, outra do pulo, e ali se fizeram espelho e constelação. Não eram iguais, mas eram próximas. Uma guardava a nascente selvagem e a outra trazia o rito da travessia. Entre ambas, a Península respirava inteira.

Quando se viram, reconheceram-se sem palavras. Eram duas e eram uma. Uma era o vale escondido; a outra, o salto feroz. Uma guardava o segredo; a outra, a passagem. Guadalupe tirou do bolso um punhado de pó negro, pedra moída, cinza antiga, memória de fogueiras mouras e lançou-o ao rio. Ana molhou os dedos e traçou um sinal na testa da outra, um sinal que não era cruz nem lua inteira, mas coisa mais velha que ambas. Dizem que ali teceram o pacto:

Enquanto houver rio escondido, disse Guadalupe, haverá quem resista por dentro.
Enquanto houver queda e retorno, respondeu Ana, haverá quem atravesse a dor.

Os lobos aproximaram-se, não como feras, mas como guardiões. Um velho, de pêlo prateado, deitou-se entre as duas. Outro ficou de sentinela. Os mais novos desapareceram na serra, levando o recado.

Nessa mesma noite, as mulheres dissolveram-se nas pedras negras da ribeira. Não morreram, tornaram-se mineral primevo, água escura, sombra fértil. Tornaram-se morenas de corpo e profundidade. Mais tarde, quando vieram igrejas e imagens, quando tentaram embranquecer o mistério e dar-lhe nome único, o povo ainda sussurrava:
Esta Senhora não veio do céu. Saiu da terra.
Não foi achada. Agachou-se e submergiu.

Chamaram-lhe Virgem porque ninguém a possuía.
Chamaram-lhe Negra porque guardava o que não se vê.
Chamaram-lhe Ana e Guadalupe porque eram rio escondido e amor fundo, lobo e vale, ferida e regresso.

E ainda hoje, dizem os pastores, quando o Guadiana se cala por dentro e o Douro ruge por cima, as duas voltam a encontrar-se. Não em corpo, mas em eco. E quem escuta aprende, sem saber como, que a terra não se domina: atravessa-se. Como o rio. Como o lobo. Como a memória que não acaba, só muda de leito.

E foi assim, dizem, que nasceu a Virgem Negra dos Moçárabes, a que falava a língua do norte com o corpo do sul. Não de um só lugar, nem só de um rio, mas do encontro entre norte e sul, entre o rio que começa nos lobos e o rio que atravessa o mundo. Desde então, quem bebe a água das pedras escuras em Lucefécit sente um peso doce no peito. Não é milagre, é a memória moura a atravessar o corpo. E assim, dizem os velhos, esta água guardou o povo desde os tempos em que o gelo recuava, das primeiras chegadas e nas grandes tomadas: quando vinham impérios, espadas e cruzes, a terra sabia onde esconder o corpo, e voltava a abrir-se depois, como água e corpo que nunca aprende a obedecer.

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Notas de Escuta

Pontos Enlaçados na Fabulação Eco-Mítica

Este conto nasce do desejo de costurar uma fabulação, como nó de escuta ao que permanece debaixo das narrativas dominantes. Quis entrelaçar um mito geográfico fundacional, em que a terra fala com os corpos e os nomes ainda contêm rios, lobos e mulheres morenas. Aqui, fabular é recordar o que foi silenciado, sentir o que resiste na paisagem e devolver densidade a uma figura que, antes de ser imagem, foi território: a Senhora Negra, feita de pedra, sombra e memória indomável. Esta história não procura fixar significados, mas abrir caminhos de ressonância entre águas subterrâneas, linhagens ocultas e a insurgência silenciosa de tudo o que nunca se deixou dominar.

Ainda que o conto não nomeie explicitamente o vasto continente africano, as morenas dos rios, Guadalupe e Di-Ana, evocam também a antiga diversidade de povos, línguas, ritos e tons de pele que sempre habitaram esta terra entre águas. Esta fabulação eco-mítica não pretende, de forma alguma, apagar a presença viva, histórica e ancestral dos povos africanos na Península. Pelo contrário, procura dissolver as fronteiras rígidas e recentes da modernidade colonial, relembrando um tempo em que o Mediterrâneo era um corpo fluido e poroso, onde pessoas, deuses e saberes circulavam sem as amarras do binarismo racial ou nacional. Como trouxe no livro O Santuário, a terra ibérica foi sempre mestiça, morena de corpos, idiomas e cosmologias. Esta morenidade não é metáfora da exclusão, mas chamamento à dignidade radical e pertença em diversidade.

As notas que se abrem abaixo não servem para dominar o sentido, mas para ampliar a escuta, mostrando como rios, nomes, pedras, animais e figuras chamadas “sagradas” pertencem a uma mesma gramática antiga da terra. Aqui, mito e território não se separam, pois o que foi narrado continua a acontecer em camadas, na língua, geografia e memória coletiva e dos corpos. Lê estas notas como quem caminha devagar à beira de um rio escuro… não para chegar a um destino, mas para aprender a reconhecer os sinais, camadas e subjectividades entrelaçadas.

Guadalupe, Guadiana, Diana, Douro: rios que falam a mesma língua antiga

  • Guadalupe carrega múltiplas camadas como, wādī al-lubbGuad- vem do árabe wādī: rio, vale, leito, passagem de água e de povo. O rio do miolo, o que corre por dentro, pelo meio, secreto; também lido como rio de pedras negras e a posterior leitura cristã nunca apagou esta raiz hídrica e terrestre. Mas também como Guad de rio e lupe de lobo: Rio dos Lobos. Também é referida com Aguadelupe: Não tenho qualquer contribuição filológica sobre este interessantíssimo assunto. O nosso povo, por vezes simplificador em assuntos de etimologia, diz «Agua de Lupe». Será «Lupe» a contrafacção de «lúcida»? […] «Lupe» seja a contrafacção de lúcida, límpida, saborosa, pura, água santa, […] é de admitir esta ginástica vocabular: Aguadeluce – Água de Lupe – Agualupe – Guadalupe.” (daqui)
  • Guadiana, Uadiana ou Odiana é o rio de Di-Ana, Dana ou Danu. O rio a que os antigos chamavam Anas, nome de origem pré-romana; Ana, Anu ou Anna é uma deusa celta ancestral, a que atravessou o mar com os celtas que partiram do norte da península em direção às ilhas. Esta deusa é a antiga mãe, uma divindade celta que deu origem a tudo e a todos, associada à Terra, às águas, aos ventos, à fertilidade e à sabedoria. O nome Danu deriva de uma palavra indo-europeia, que pode ser traduzida como aquela que flui. Outros acreditam que a palavra tem origem na antiga língua Cita, significando o rio. No mundo celta, ela também era considerada a deusa dos rios e de outros grandes corpos de água. A Deusa mãe ancestral, lunar, guardiã dos limiares, das passagens e dos refúgios. O rio como corpo da deusa pré-romana das margens e transições, nunca ao centro do poder. Quase na foz do rio Guadiana encontramos o Pulo do Lobo, uma queda de água impressionante de 13 metros, de valor ecológico incalculável, por permitir a biodiversidade de ambos os lados do rio (pois os animais conseguem aqui atravessar naturalmente a margem).
  • Douro, na sua nascente no Cañón del Río Lobos, entra neste campo mítico: o rio começa no território do lobo, animal-ponte entre o humano e o indomesticável. Linguistas acreditam que Douro tem raíz pré-romana/céltica, ligada a palavras que significam água ou rio. Em várias línguas celtas, existem formas semelhantes, o Breton dour, o galês dŵr e o gaulês dubron,“água/curso de água”.
  • Assim, os quatro nomes não são entidades separadas, mas variações de uma mesma gramática antiga da água, dos limiares, do corpo e do refúgio. Não esquecer que palavra Garb (de Al-Garb, Algarve) significa ‘oeste, poente, ocidente’ e era usada pelos árabes para designar todo o Ocidente da Península Ibérica, situado entre o Douro e o Guadiana, que correspondia, à antiga Lusitânia romana: “O al Andaluz (…) divide-se em dois Andaluz. Um oriental e outro ocidental. A Espanha ocidental — o Garb — é aquela em que os rios correm para o Atlântico e em que as chuvas são comandadas pelos ventos do oeste.” ver Cláudio TORRES, “A terra e os homens”.

Luz e escuridão: não como oposição, mas como respiração

  • Esta fabulação trabalha em aparentes contrastes:
    • Guadalupe / Virgem Negra / Lupe / Lúcida /pedra escura
    • Di-Ana, Dana (Lúcia) / Lua / A Que Flui
    • Lucefécit — nome que contém lux (luz) e fécit (fez, gerou).
  • Aqui, luz e escuridão não se anulam ou se opõem, pois a escuridão é ventre, húmus, proteção; e a luz é passagem, revelação breve, não domínio. Lucefécit torna-se lugar de convergência, um centro das margens, não o triunfo da luz, mas a luz da pedra negra, como sabedoria do corpo-lugar. Pois a Virgem Negra não nega a luz, sem ver, ensina quando e como ela deve entrar.

Virgens Negras como Rios, Pedras e Lobos

  • As Virgens Negras do território ibérico não são figuras do transcendente. Cheiram a terra molhada, fumo, leite, sangue e lã.
  • No conto tecem-se várias convergências simbólicas. É onde as Virgens Negras são: rios (movimento, memória, continuidade); pedra negra (tempo profundo, resistência ao desgaste); lobos (comunidade, fronteira, vigilância).
  • De notar como o lobo aparece incessantemente nesta geografia eco-mítica, desde a nascente do Douro (rio dos lobos); ao Pulo do Lobo no Guadiana (queda, travessia, morte breve). Aqui trago o lobo como aliado da autonomia coletiva e insubmissão ao centro.
  • As Virgens Negras tornam-se, assim, corpos-território de resistência, onde o afecto não é sentimental, mas prática de sobrevivência reverente, e resistência potente.
  • Guadalupe, Atocha, Montserrat, Peña de Francia, Nazaré, Rocamadour… formam uma constelação de lugares escuros e elevados, frequentemente sobre antigos cultos pré-cristãos. São frequentemente encontradas (não trazidas), ligadas a grutas, fontes, pedras, associadas a pastores, lobos e outros animais.
  • Neste conto, a Virgem Negra dos Moçárabes não é uma entre outras, mas a figura-síntese dessa continuidade morena e mestiça: fala a língua do norte com o corpo do sul, atravessa re(li)giões pertencendo incondicionalmente ao território e permanece quando os nomes mudam.

Resistência, revolução e refúgio: uma política da terra

  • Esta fabulação eco-mítica não traz resistência como confronto direto, mas como arte de esconder e reaparecer.
  • Desde o fim da glaciação até às sucessivas vagas de bárbaras e imperiais da romanização, aos suevos, do domínio islâmico, à cristianização, a terra ibérica desenvolveu uma sabedoria recorrente de se recolher nas margens, nas serras, nas águas fundas, nos cultos escuros como modo de resistência. e sobrevivência. Neste contexto, as Virgens Negras funcionam como arquivos vivos dessa estratégia; em corpos-lugar onde a vida se protege enquanto o império passa. A revolução aqui não é tomada do centro, mas fidelidade ao subterrâneo.

Moçárabe como condição eco-mítica

  • “Moçárabe” aqui não é identidade histórica, mas modo de habitar, de viver entre línguas, entre deuses, entre impérios, sem se deixar capturar por nenhum. Os núcleos de moçárabes existem no território português documentados desde do século VIII ao XII e do Algarve a Entre-Douro-e-Minho. Em 1956, António Losa, ilustra esta presença pelas lendas da Dama Pé de Cabra, do Bispo Negro e de Gaia.
  • A fabulação de uma possível Virgem Negra dos Moçárabes é aqui tecida como a guardiã do intervalo, senhoras do entre-rios, corpo de memória não assimilável nem domesticável. Mistério, refúgio e opacidade sagrada. Trago também o rito moçárabe enlaçado em múltiplas influências, assente na teoria mais comum atual que vê a África romana como a origem deste rito, com influências orientais e visigóticas. Sendo testemunho de migrações e trocas, influências e mutações populares.

O conto propõe o moçárabe como ecologia política antiga, numa arte de permanecer sem se tornar império. Intrépido como a água, fundo como a pedra.

Bibliografia

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  • SOFIA BATALHA. Contos da Serpente e da Lua.
  • SOFIA BATALHA. Pequeno livro da Imanência.

    Ciclo de contos de Activismo Eco-Mítico

    Contos da minha autoria, de trama eco-mitológicatotémica e animista, inspirado em fragmentos de contos tradicionais.

    A ideia deste ciclo de contos é antiga em mim. É outra tentativa de, sem apropriação cultural de histórias que não nos pertencem, tentar transmitir conceitos, numa sintaxe popular e folclórica, que a mente moderna tem real dificuldade em habitar. Fabulando contos tradicionais contados desde outros paradigmas de parentesco e cuidado, que podem ser cultivados no húmus da nossa psique colectiva.

    Estes contos foram tecidos a partir de artigos que tenho escrito ao longo dos anos, textos que trazem referências fundamentais aos conceitos e paradigmas que ancoram cada conto. E a partir de contos e lendas tradicionais, cozinhando-os com outros paradigmas.

    Uma pulsante refabulação do folclore português, refutando as ontologias hierárquicas em favor de teias relacionais, desafiando as noções lineares de tempo e progresso; e reposicionando o saber como uma prática comunitária e incorporada, em vez de uma aquisição individual e abstrata. Lembramos o princípio cíclico de vida, morte e regeneração que a modernidade tentou esquecer. Este projecto faz parte da rede múltipla de experimentações do Activismo Eco-Mítico, e da rede pedagógica de (des)formações.

    🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência. 

    Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.