Feng Shui Clássico ou Simbólico?

O Feng Shui Clássico

A abordagem clássica do Feng Shui é vista pelos chineses como um método científico e apesar dos diferentes métodos, no Feng Shui Clássico todas as medições e contas são levadas muito a sério. É certo que cada mestre tem um método diferente, mas esta técnica encontra-se culturalmente muito enraizado na China, um povo muito apegado à sua valiosa herança cultural e metafísica e que, nestas áreas, gosta de se manter fiel à base.

A adaptação

No processo de desconstrução necessário para a adaptação desta filosofia para o Ocidente, não podemos ignorar o posicionamento cultural, mental ou energético europeu, que é completamente diferente do original. Nem melhor, nem pior, apenas diferente, pois são mundos e universos diferentes. Não há uma abordagem errada e a outra está certa ou sequer julgamento. Apenas a certeza, que quer pelo contexto, quer pela época em que vivemos, se exige uma natural adaptação. E, claro, os processos intuitivos, assim como a intenção, que não fazem parte da abordagem oriental, estão sempre presentes na adaptação contemporânea.

Quando se analisam casas e pessoas, há questões escondidas e inconscientes que as pessoas negam. Por isso, o desafio do Feng Shui Simbólico é que não é tão taxativo como o Clássico.

 

O Feng Shui Simbólico

Enquanto, Feng Shui Clássico é apresentado como um conjunto de fórmulas ancestrais já comprovadas, estudadas e experienciadas ao longo de anos, o Feng Shui Clássico e imperial diagnostica a estrutura e o Chi da terra, a sua orientação. Este, pretende ser objectivo, directo e concreto. Já o Feng Shui Simbólico expande-se para além da estrutura e não se baseia apenas em interpretações que os chineses usavam há milénios, mas nas actuais, usando ferramentas como os verbos, a linguagem e a simbologia.

Ao ir-se buscar os baguas e toda a sua simbologia, tem de haver uma tradução para o aqui e para o agora e como cada pessoa constrói um bagua diferente, também a leitura é diferente mutável no tempo. Desta forma, constrói-se um processo muito mais forte e pessoal, que é também abstracto, levando-nos a fluir pela estrutura e pela energia de cada um, isto é dos habitantes.

Posto isto, pode optar por um dos métodos: pelo Feng Shui Clássico ou pelo Feng Shui Simbólico, usando em exclusivo um ou o outro.

A minha opinião

Pessoalmente, usei durante muito tempo ambos, pois senti serem complementares. Afinal, tudo é energia, tudo é vibração. Por um lado, no método clássico o conceito de autoconhecimento não existe. O Feng Shui, após distanciar-se da sua raiz xamânica, foi adoptado como uma ferramenta imperial de guerra e poder. Desde essa altura, que passou a ser usado com o propósito de manutenção do poder e do dinheiro. Por exemplo, se o Mestre diz que a filha fez algo mal, então, a filha vai para um colégio interno a 300 quilómetros de distância. Isto, é a realidade das consultas na China, não a realidade ocidental.

Até porque não nos podemos esquecer, que se por um lado tem as artes marciais, o budismo, o taoísmo ou o confucionismo, a China continua a ser uma sociedade patriarcal, fechada e materialista – enfim: um país de paradoxos.

Foi por isso que, sim, bebemos muita informação, mas introduzimos também a parte emocional. Os chineses usam o Feng Shui de uma forma muito racional e objectiva, limitando muitas das interpretações das estrelas1 ao poder ou à de saúde, deixando de lado as questões emocionais.

A China tem uma raiz espiritual fortíssima e este povo criou toda a metafísica e cosmologia e têm estas ferramentas valiosíssimas que podem ser aplicadas em espaços e tempos diferentes, não perdendo o seu valor intrínseco, pois são fórmulas universais. No entanto, é sempre bom ter a noção que, fora da China, tudo se aplica de forma diferente, inclusive o método clássico – sim, até o mais tradicional acaba por ser sempre uma adaptação. E isso acontece, porque buscar conexões que o método original não tem, dando-lhe uma nova dimensão emocional e pontos de vista diferentes, ou seja, adaptamos o Feng Shui ao espaço-tempo onde nos inserimos.

É fundamental ter em conta estas questões quando se adapta conhecimento que não é deste espaço e tempo cultural, para perceber onde nos encaixamos e de que forma traduzimos este conhecimento do ponto de vista individual, respeitando a personalidade e vivência de cada um – daí falar tanto em Simbologia PessoalFazermos Feng Shui para nós próprios, que é também o mais difícil.

O Feng Shui Simbólico, Lunar e Feminino interpreta a casa como lar, enquanto o Feng Shui Tradicional ou Clássico analisa a casa como estrutura física e energética, que suporta o lar.

Segundo a metafísica ancestral chinesa existe uma trindade cósmica, denominada de San Cai, que se refere à sorte do céu, do homem e da terra. A sorte do céu é a astrologia. Já a sorte da terra relaciona-se com o Feng Shui Clássico, que analisa directamente o Chi da terra. Por último, na sorte do homem encaixa o Feng shui Simbólico, que lida com o desenvolvimento pessoal e com as emoções, na relação dos habitantes com o tempo (céu) e com a casa (terra).

1_Adaptado de Colecção Casa Simbólica, Volume 1, Sofia Batalha

🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência. 

Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.