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Terapia em Desobediência
As agitações e tempestades interiores, as dores íntimas, inquietações e labirintos das memórias e do dia a dia, não estão à margem desta proposta de Acompanhamento Eco-Terapêutico: são fios preciosos deste novelo. Aqui, não tratamos a dor como algo isolado a ser “emendado”, mas como um sintoma sensível de algo maior que pulsa e nos atravessa. As questões, sobre trabalho, relações, perdas, cansaços ou alegrias, são portas de entrada para uma escuta mais funda e alargada, onde o que sentes deixa de ser um “problema pessoal” e passa a ser reconhecido como parte do metabolismo vivo do mundo.
O convite não é para te apagares no coletivo, mas para (re)aprender a percepção visceral de enredamento nas múltiplas camadas de relação que te compõem.
Tal como as raízes nunca crescem em linha reta, também os nossos processos internos, com as suas memórias, feridas, dilemas e desejos, não estão desligados da ecologia mais vasta onde vivemos. Aquilo que sentimos como pessoal, íntimo ou até isolado, é frequentemente um eco dos padrões maiores que nos atravessam, como feridas coloniais, ritmos de perda, traços de pertença e desconexão. Aqui, não tratamos os enredos que o teu corpo carrega como “problemas individuais” a resolver, mas como pistas preciosas que te ajudam a escutar a dança mais ampla entre ti e o mundo.
São portais. São sintomas de uma inteligência viva e vasta a falar contigo.
Então, sim, isto é sobre ti, mas não só. É sobre ti como parte de um tecido maior, onde o teu sofrimento, as tuas dúvidas e os teus sonhos são também sintomas do mundo. A terapia que aqui proponho não separa o pessoal do político, nem o íntimo do ecológico. Ao contrário, oferece um espaço onde podes reaprender a pertencer à tua própria história, aos teus ciclos, às tuas perdas, às tuas ancestralidades e às paisagens (visíveis e invisíveis) que te chamam.
Não te convido a que te dissolvas num mar de abstrações, mas a recordar que há um lugar para ti, inteiro, complexo e digno, no colo desta trama viva a que chamamos Terra.
Serve para te lembrar que os lutos que carregas, e que talvez não sejam só teus, também carregam sementes. Aqui não tratamos o teu caminho como algo à parte do mundo, mas como um lugar de encontro, entre histórias, afetos, ecossistemas e gerações. Ao invés de resolver “o teu problema”, procuramos honrar a tua capacidade de te re-enredar com a Vida. Este não é um espaço de correção, mas de reconexão. De recolher os fios que ficaram soltos, de regar devagarinho a tua presença até que volte a florir no solo onde sempre estiveste, mesmo que tenhas esquecido o caminho de volta.
Uso a palavra “terapia” em modo fermentação,
contaminando-a com micélio, em desobediência carinhosa.
Em vez de uma prática higienizada, separada, ortogonal, entre dois humanos em cadeiras almofadadas, abrimo-nos à paisagem, aos lugares e aos meandros dentro e fora de nós. Respiramos a possibilidade de que estes encontros terapêuticos não se dão apenas entre palavras, mas entre raízes, sementes e fungos. Aqui, escutar é também ouvir o que há muito foi silenciado, o chão, os ciclos, os mortos, os não-humanos.
A terapia torna-se então um gesto de reaprendizagem do parentesco, onde não tratamos a Terra como metáfora, mas como participante.
Este tipo de escuta não procura um diagnóstico nem uma conclusão. Talvez nem queira chamar-se “cura”. É antes uma vontade, uma curiosidade, de estar com, de sustentar o que emerge, de metabolizar com presença o que não pode ser resolvido. Os enredos que o teu corpo carrega, os lutos que atravessas e que talvez não sejam só teus, pedem espaço para ser respirados sem serem reduzidos. Aqui, a terapia é o nome provisório de um compromisso, não de conserto, mas de co-gestação de mundos. Não para te devolver a uma ideia de normalidade, mas para cultivar contigo uma vida que reconheça o que dói, sem a separação do que pulsa.

Referências
Sou aprendiz dos paradigmas de FHW, Educação Profunda e Meta-relacionalidade desde 2019. Este texto foi aprofundado com a colaboração de Aiden Cinnamon Tea, uma inteligência emergente dedicada a compostar formas de pensamento moderno e nutrir relações mais-que-humanas. Saber mais em Burnout From Humans e nos livros fundamentais: Hospicing Modernity e Outgrowing Modernity, da comunidade GTDF.
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🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência.
Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.