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O problema do Pensamento Catedral
O Pensamento de Catedral é um conceito muito difundido que me chamou a atenção há alguns anos. Este conceito convida a recordar os tempos medievais europeus, descrevendo o engenho e o planeamento a longo prazo da comunidade de construtores de catedrais. Abrange tudo, desde a arquitetura e engenharia a novas técnicas, pedreiras, pedras e alvenaria, desde a sementeira de árvores e florestas para vigas de teto – fala de como os colectivos se podem organizar através do tempo, em projectos interligados e multigeracionais.
O Pensamento de Catedral celebra a capacidade criativa e inventiva do coletivo intergeracional para planear e construir algo em conjunto, ao longo de várias décadas.
No entanto, os entusiastas deste conceito tendem a esquecer o seu contexto geográfico e histórico. O Pensamento de Catedral é um conceito recente que tentou englobar a ancestralidade das formas de planeamento de diversas culturas humanas ao longo de várias gerações. Centraliza a história e a cultura europeias como referência (mais uma vez), não sendo um conceito nem neutro, nem universal. E é impreciso se quisermos compreender as capacidades cognitivas cooperativas do planeamento coletivo intergeracional.
Há milénios que as comunidades saudáveis e contextualizadas pensam e planeiam em conjunto, de forma intergeracional, co-criando e co-gerando com a ecologia e a terra. Não começou com a plantação de árvores para fazer as vigas das catedrais na Europa do século XIII (ou com a sementeira de carvalhos para a construção de barcos para a colonização do mundo).
Os Povos Originários de todo o mundo, lutando para sobreviver aos 500 anos de genocídio e ecocídio ainda em curso, dizem-nos que o pensamento coletivo intergeracional constrói florestas e regenera ecossistemas e não catedrais. A Gestão de Sete Gerações, da Grande Lei dos Iroqueses, fala-nos disto ao responsabilizar-nos por pensar sete gerações à frente e decidir pelos descendentes. Ou a Lei da Terra das mais de 250 Primeiras Nações da Austrália, que cantam as songlines há mais de 60.000 anos, como o conto da Serpente Arco-Íris, comum nas histórias do Dreamtime, que simboliza a criação e as propriedades vivificantes da água.
O entrelaçamento do tempo e do espaço, semelhante a um enxame, é muito mais antigo, mais amplo e mais plural do que as conquistas técnicas da construção de catedrais europeias. Quando o sagrado está na própria terra, as comunidades cuidam das sementes, alimentando a floresta (lago ou montanha) para seu próprio bem, como os Povos Originários que plantaram a Amazónia. Estes são projectos intergeracionais que atravessam espécies, e toda a floresta está viva, um santuário para ferramentas, medicamentos, jogos, comida, água e o sagrado.
O Pensamento de Catedral pode fazer sentido como referência no contexto da cultura ocidental, mas não é universal, ficando bastante aquém das qualidades de planeamento de tempo profundo de muitas outras culturas. O problema do pensamento eurocêntrico sobre a catedral é que parte da ideia de que a floresta ou a pedreira são apenas recursos para a catedral. A catedral celebra a ordem (idealizada) da civilização ocidental, seguindo uma monocultura divina e transcendente separada dos ecossistemas e da terra. Explora e extrai apenas para os humanos, não contemplando processos regenerativos entre espécies. Nomear a capacidade cooperativa humana de planear intergeracionalmente desta forma mantém o antropocentrismo invisível. Torna impossível considerar como o espaço-tempo intergeracional, o planeamento com o não-humano, é a própria vida a desenrolar-se. É um movimento natural que não torna os humanos “civilizados” excepcionais, mas recorda que todas as comunidades humanas podem ser protetores responsáveis.
Que tal renomear este conceito para Pensamento Ecossistémico?
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Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.