Não existimos no Vácuo!

A nossa pele e ossos sempre fizeram parte de complexas ecologias vivas.
O sagrado das nossas vísceras sempre se emocionou com o chão e as estrelas.

Vivemos tempos saturados por diagnósticos, modelos e técnicas que nos oferecem mapas de sobrevivência individual… mas esquecem que não existimos no vácuo. As nossas feridas, os nossos medos e até os nossos sonhos carregam sedimentos coletivos, históricos e ecológicos. A ecopsicologia relacional não procura respostas em fórmulas prontas, mas caminha com as fissuras e contradições que nos lembram que cada corpo é uma intersecção viva de histórias, geografias, ecossistemas e silêncios. Este texto é um convite a recusar o isolamento como destino e a relembrar o que o mundo não-humano sempre soube, não há saúde sem relação.

O labor de recuperar a sabedoria das relações multi e interespécies, baseada na humilde observação simbiótica e na responsabilidade recíproca, abre-nos a desaprender a ilusão de normalidade hierárquica e neutra. Abrindo espaço para co-aprender que os desafios actuais nunca se limitaram às alterações climáticas, à proliferação de combustíveis fósseis, ou uma economia instável.

Certamente que o cuidado e afecto do remembramento desta sabedoria caleidoscópica, biológica e relacional, diz-nos que os veículos eléctricos, a captura de CO2, as energias renováveis e a reciclagem doméstica, não são as respostas planetárias interseccionais necessárias aos problemas perversos que criámos e que relutante e apaticamente atravessamos.

Que abramos a lente da visão superficial e profundamente limitada.

Além do desafio de mudar de história e alterar a percepção, a crise é realmente relacional. Que tenhamos a coragem de expandir e descentrar a nossa identidade, afinidades e vínculos, pois tanto a espiritualidade como as nossas emoções sempre foram ecológicas e profundamente entrelaçadas com um mundo a fervilhar de vida.

👉 Referências

Lista imperfeita e sempre em atualização da Carbon Tunnel Vision

Conceptualmente, a visão de túnel do carbono é uma visão limitada do mundo e das alterações climáticas, que se centra exclusivamente no CO2 ao abordar a degradação ambiental. Por outras palavras, é uma estratégia que persegue o objetivo importante de alcançar emissões líquidas nulas, mas não considera nenhuma das outras partes, paradoxos ou complexidades dos problemas e crises, o que evita e anula as adaptações e transformações regenerativas fundamentais.

Nas listas seguintes o que está sublinhado são as únicas coisas que vemos, tudo o resto está fora do campo de visão/ação.

Causas Sociais:

  • Produção Industrial
  • Mineração, Sobre-pesca, etc
  • Expansão urbana e de estradas
  • Pecuária Intensiva
  • Exploração madeireira e incêndios florestais
  • Proliferação de combustíveis fósseis
  • Licença para Poluir
  • Proliferação de Lixo
  • Conflitos sobre “recursos” no Território
  • Racismo Estrutural
  • Acumulação de riqueza

Impacto na vida:

  • Perda de acesso à água
  • Fome
  • Desigualdade bruta
  • Perda do direito à terra
  • Desadaptação
  • Danos aos animais
  • Extinção de espécies
  • Economia instável
  • Deslocação
  • Saúde Pandemias
  • Violência e destruição

Limites do Planeta:

  • Acidificação dos oceanos
  • Carga de aerossóis atmosféricos
  • Empobrecimento do ozono estratosférico
  • Novas entidades
  • Alterações climáticas
  • Integridade da biosfera
  • Alterações do sistema terrestre
  • Fluxos biogeoquímicos
  • Utilização de água doce

Tácticas ocidentais/eurocêntricas:

  • Regeneração de bioregiões
  • Equidade sistémica
  • Reparações
  • Compensações de CO2
  • Acções domésticas
  • Veículos eléctricos
  • Captura de CO2
  • Energias renováveis
  • Adaptação
  • Biofilia sagrada
  • Economia Circular
  • Dietas vegetais
  • Lei do Ecocídio
  • Colaboração, Co-aprendizagem

Neste entrelaçamento constante, não exigimos pureza, mas presença. Não queremos curas instantâneas, mas metabolizações lentas. De que interessa um “eu” fortalecido para vencer sozinho, sem uma escuta que saiba habitar a dor do mundo sem cair na paralisia ou na negação. O que aqui propomos é uma reviravolta radical … sair das promessas de salvação individual e reencontrar a dignidade do enredamento. Porque não somos entidades separadas a navegar o colapso, somos a própria teia que colapsa e se co-cria a cada momento. Não existimos no vácuo. Existimos com, entre, através e isso muda tudo.

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{Ecopsicologia}

🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência. 

Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.