Lamento que achemos que Lugar não é verbo.

{mas como a palavra lugar não é um verbo?!}

Suspiro a que possamos re-escrever o Território como ações e movimentos.

Como limiares e transições, de espaços, corpos e tempos. Vastos e minúsculos.

De carne porosa que transborda e partilha.

Grito a que recordemos os Locais como teias dinâmicas em permanente metamorfose.

Em transformações enredadas e contextuais. 

Respiração com vento.

Rio com linfa.

Parentes a bailar.

Clamo aos tons, texturas e expressões poli-vocais de cada Lugar, a que nos toquem.

A que lhes toquemos.

Reclamo que os Lugares sejam reconhecidos como verbos de novo.

Verbos de sabedoria regional, com o poder de devolver a narrativa às vozes e memórias locais.

Pele com terra.

Pedras com ossos.

Mar com consciência.

Reivindico os Lugares como territórios ecossistémicos de diversas relações colectivas. 

Tal como um origami num sonho, eternamente a desdobrar-se. Sem findar.

Comungamos com a impermanência.

Sintonizamos a mutação.

Sem capturar.

Asas com escamas.

Garras com raízes.

Abraçamos montanhas.

Que incubemos a intimidade dos verbos ecológicos e primevos que nos atravessam e envolvem.

Que nos fazem e desfazem.

Que nos ancoram e dissolvem.

Dos uivos do vento às melodias das aves.

Do rugir das tempestades aos roncos do intestino.

Ovos e casulos.

Úteros e covas.

Ao sair do vácuo da saturada cegueira branca da modernidade, a que violentamente ignora que os Lugares sempre foram verbos primevos em desdobramento essencial, improvisamos em mitologia crua.

Desbravamos terreno sagrado.

Pulsamos em reverberação.

Relembramo-nos na banal simbiose.

Em criação e decomposição.

Porque, afinal, os Lugares sempre foram verbos.

{embora exista o verbo localizar e territorializar, há diferenças entre Lugar e Local. Ambas as palavras provêm do latim locále ou locus, mas Lugar é geralmente utilizado como substantivo e local como substantivo ou adjetivo. Como adjetivo, local refere-se a um lugar, significando “pertencente a um determinado lugar.” Quero notar que estes verbos e adjectivos são usados como referências situadas de contexto, ou seja, onde algo está ou se encontra; tal como uma bússola nos indica as localizações e orientações. O que pretendo com este grito-oração é diferente: é assumir o Lugar como metamorfo em si, como verbo primordial de espaço-tempo de desdobramento da vida e não apenas como referência de orientação/localização humana. O Lugar, como território múltiplo, ecossistémico e soberano, onde, através da interligação de múltiplos sistemas, a vida se desenrola. O Lugar como vivo, que alberga as histórias do mundo -histórias que não são sobre nós individualmente, mas que nos envolvem e atravessam visceralmente.}

🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência. 

Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.