
Falamos de imaginação viva
A que nos invade e fertiliza
A das ideias e intuições que nunca foram apenas nossas
Dos sonhos que sempre foram porosos e situados
Da que brota em cada semente
E debaixo de cada pedra
Falamos de imaginação ecológica
A sagrada imanência pulsante para além das palavras
Os sussurros das nuvens
As histórias da montanhas
As canções das árvores
Os gritos das profundezas
As fases da lua
As memórias do corpo
O chão que fala
A imaginação mítica que nunca foi apenas humana
Sempre contaminada
Emaranhada
Tecida em conjunto com o território e os seus múltiplos parentes
Com as suas fases e ritmos
A imaginação viva que segue os contos
Que escuta a matriz
Que se desdobra e vibra
A que respira
A imaginação viva que nunca foi nossa
Mas à qual pertencemos visceral e incondicionalmente
Simplesmente porque existimos
[ou sobre o arrogante e limitado antropocentrismo que nega o emaranhamento biológico e metabólico, iludindo-se de que a consciência é exclusivamente humana]
