Tecer o tempo cíclico – Rosário lunar/menstrual
Ressonância somática do tempo orgânico
Esta é uma materialidade cíclica do tempo somático: pesado e de metamorfose.
O Rosário pode ser caótico, organizado em espiral ou onduladamente, e até pendurado linearmente.
Tem peso e lança uma sombra própria.
Esta é uma peça ritual, um talismã de memórias profundas do tempo.
Desperta o sentido da viagem orgânica e cíclica de expansão e contracção do tempo.
Fala em textura, memória, e ritmo.
Cada pedra e osso é uma porta sazonal – uma abertura para o momento seguinte.
O tempo linear é onde o passado, presente e futuro existem em sequência, sempre a avançar e a subir – um tempo moderno, patriarcal, onde a lógica é sempre avançar para cima, criando um vício de progresso e novidade.
O tempo circular também tem passado, presente e futuro, mas com uma qualidade cíclica inestimável, para além de ser o ritmo orgânico da natureza. O tempo cíclico tem complexidade e recorrência, circulando entre diferentes fases de luz e sombra – algo que o tempo linear evita, tentando sempre esconder a sombra.
O tempo cíclico também é fractal, pois acontece em muitas dimensões ao mesmo tempo. Embora a haja recorrência matricial, cada momento é único. Assim, existe o ciclo solar – o ciclo solar anual ou diário – representado pelas estações e horas do dia. O ciclo lunar – desde a lua cheia até à lua negra e vice-versa. E também o ciclo de vida – através das fases da virgem, mãe e anciã, desde a menarca até à menopausa. Também se materializa mensalmente através do ciclo de ovulação/menstruação. Sem esquecer os ciclos temporais profundos (cósmicos ou geológicos) ou os ritmos baseados no local.
A experiência cíclica é uma capacidade visceral e incorporada de abraçar a mudança. A luz e a sombra são ambas necessárias; são relativas e interdependentes. A simples observação da lua é importante para se reconectar com o tempo cíclico, uma experiência viva de subjectividade e nuance.
As extremidades metálicas do Rosário lunar/menstrual sazonal representam a lua escura (menstruação ou solstício de inverno), e o terço central simboliza a lua cheia (ovulação ou solstício de verão).
Esta peça ajudou-me a incorporar a ressonância somática profunda do ritmo e do tempo nas várias fases, desaprendendo o tempo linear.
🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência.
Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.