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Sintoma e Oráculo
Há um entrelaçamento vivo, uma teia vibrante que fecunda as emoções ecológicas do Norte Global, as que sentem o colapso em eco-ansiedade ou luto ecológico, como ecos de um diálogo mais antigo e exilado pela modernidade. Não são patologias individuais, mas ressonâncias de conversas silenciadas pela modernidade, que podem ser reabertas através da escuta reverente e do imaginário eco-mítico.
As emoções ecológicas são sintoma e oráculo. São meandros, micélio e rizomas. Sintomas da perniciosa doença da separação e vestígios da capacidade, mesmo que soterrada, de sentir a metabolização planetária. Em vez de tratar a eco-ansiedade como “excesso” emocional a ser de novo achatado em nome da normalidade dissociada, que nos aventuremos a ouvi-la como resquício de uma escuta interrompida, que pode ser reativada.
Pelo Ativismo Eco-Mítico e Investigação-Oração, podemos abrir-nos à escuta reverente, a que pressente para lá do conteúdo. Esta presença crua é um testemunho vivo de re-ligação. A imaginação mítica, nesse contexto, não é fuga, mas linguagem de reconexão, fecundando o corpo ecológico, ancestrais e pluri-cosmos, hoje em dia reduzidos a sintomas psicológicos. Abstraídos e dissociados do contexto ecológico.
A modernidade fragmenta o corpo, silencia as emoções e o esventra o planeta, tornando o sentir algo a ser corrigido ou controlado. Por seu lado, o Ativismo Eco-Mítico recorda o mito como guardião de saberes e práticas que mantinham viva a escuta, antes de serem empurradas para o exílio eco-simbólico. Tecendo um espaço de fermentação partilhado de onde se pode cantar, narrar, dançar e rezar o colapso, não para o afastar, mas para estar nele com dignidade. Já a práxis de Investigação-Oração entrelaça a atenção e a devoção, fertilizando a escuta para lá da lógica instrumental. Não para é “resolver” o mal-estar, mas para o transformar em matéria viva de ligação.
Validar estas emoções como legítimas, mesmo que surjam tardiamente e com privilégio, é convidá-las a sair do registo individual do espartilho moderno. Tornam-se férteis quando acolhidas numa teia relacional mais ampla, onde luto e mito dançam juntos, abrindo espaço para novas formas de pertença e compromisso com o metabolismo planetário. Validar o que se sente é abrir a um movimento de transbordamento para além do eu-individual.
Porque só sentir não é suficiente, mas é ponto de partida para um compromisso mais profundo com o metabolismo planetário. Aceitamos o convite para práticas contínuas de escuta reverente e imaginação mítica como modos de viver e morrer dentro das transformações em curso. Que possamos deixar que o luto fale com a Terra, e que a Terra fale connosco, numa língua que já esquecemos, mas que vive nos nossos ossos.
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