SiDURi

O Abraço Abundante e Alquímico do Submundo

Antes de ler os textos com quase de cinco mil anos que deram origem a esta história, sonhei várias vezes com Siduri. Embora ainda não soubesse o seu nome, ela embalou-me carinhosamente de volta. Sonhos que não vou partilhar, mas que foram a chave para este enquadramento eco-mitológico de Luto e amor.

“A Deusa Velada vive aqui desde que se lembra de existir. Aqui mesmo, atrás da neblina, na margem entre o mundo dos vivos e dos mortos, onde o sol e a lua se encontram e a aurora dança. Aqui, no pomar à beira do mar, na confluência dos quatro rios. O seu é um jardim abundante de Vida, mesmo à beira do submundo. A sua é a passagem e descanso entre dimensões, o lugar de repouso, a derradeira pausa no caminho para a Morte ou no resgate da Vida.”

Siduri-Sabiltu, a deusa sacerdotisa, profeta, oráculo e serpente, ofereceu-me o caminho de volta à Vida. Ela é a que se enrosca na Árvore-da-Vida, a videira primeva que nasce da terra alimentada pela nutritiva decomposição das dores, tristezas, paixões e desafios. Das uvas-estrela sustentadas pelo chão que fermenta as alegrias, fecundando e regenerando o Paraíso.

Siduri-Sabiltu amassa o pão de reciprocar em simbiose, o mosto de deleitar e relacionar. Numa ébria catarse de dança e poesia, nas celebrações que ciclicamente nutrem e regeneram os laços sociais, humanos e mais-que-humanos, aqueles que sustentam a dor e o Luto através da alegria.