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Reflexão
Dispersão, Difração, Refração
Está codificado na nossa linguagem que quando pensamos sobre alguma coisa estamos a reflectir — palavra que na origem junta re “voltar para trás” ou “desfazer,” com flectir “flexibilidade” ou “dobrar.”
Hoje em dia o movimento e acto de reflexo ou reflectir liga-se “à ação de devolver a luz ou o calor,” do latim reflexionem — “curvatura para trás,” “inclinar para trás, afastar.” O significado de “uma imagem produzida pelo espelho” vem do século 17. E com o humanismo iluminista, surge a ligação à mente, “voltar o pensamento para experiências ou ideias passadas,” ou seja, uma “observação feita após voltar a pensar nalgum assunto.” A reavaliação, a contemplação e o exame do processo de pensamento.
Sabemos hoje que a luz, possivelmente tal como os pensamentos ou ideias, pode ser reflectida.
Mas há outras formas de observar o comportamento e trajectória das ondas, tais como a Dispersão, Difração, Refração.
Observamos então o movimento fluído das ondas oceânicas, da luz, do som e, quem sabe, da consciência.
Reflexão é uma mudança brusca na direção de propagação de uma onda, tal como o reflexo num espelho. A Dispersão, por seu lado, conecta a propagação com a velocidade. Já a Difração fala de interferências na propagação de ondas em torno de obstáculos, como ocorre com o som, a radiação electromagnética, a luz, os raios X e os raios gama, átomos, neutrões e electrões. E a Refração é a mudança de direção de uma onda de um meio para outro, pela mudança de velocidade.
A Refração diz-nos que as ondas se deslocam mais rapidamente em águas profundas do que em águas superficiais; a velocidade das ondas sonoras é maior no ar quente do que no ar frio; os sons, como vozes e música, podem ser ouvidos muito mais longe através da água à noite do que durante o dia. Um raio de luz solar é composto por muitos comprimentos de onda que, combinados, parecem ser incolores, mas ao entrar num prisma de vidro, as diferentes refracções dos vários comprimentos de onda espalham-nos num arco-íris, abrindo o espetro das várias cores.
E se, em vez de apenas Refletir, tantas vezes em circuito fechado e padronizado, viciados numa racionalidade unidimensional e sem capacidade de sair de reflexos que nos aprisionam, considerarmos o Dispersar, dissipando confinamentos, dissolvendo amarras e derramando-nos em relação?
E se, tomarmos a Difração, assumindo as sombras desfocadas, como os pontos-cegos, preconceitos e os inevitáveis obstáculos e ruído que interfere nas nossas idealizações de pureza?
E se, podermos ruminar e evocar pela Refração, que nos fala do vasto eco da escuridão e profundidade, que nos abre a diferentes velocidades de ser e à vastidão das cores que nos compõem?
E se, a reflexão, com a razão e lógica, com os nossos pensamentos, crenças e ideias, fossem muito mais fluídas que a cristalização linear e lógica com que a queremos domar? E fossem como ondas do oceano?
Referências
🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência.
Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.