Os Vermes

Pela fome e solidão abres a lata

Rasgas o metal

~

Transborda o molho espesso pela mesa

Os vermes derramam-se viscosos

Contorcem-se na madeira velha

~

O metal vazio, corroído e afiado cai no chão 

Com uma pancada seca

Rebola para longe

Esquecido

~

A fome

~

Mas as larvas comem a mesa

Mastigam a madeira

Abocanham o tampo

Escorrem pelas quatro pernas

Mordem e trituram

~

Pela fome e solidão abriste a lata

Rasgaste o metal

Feriste a carne

~

A mesa foi engolida

E tiveste de fugir.

~

Agora aqui

Na orla da floresta antiga

Ouves os uivos lá dentro

Loucos

Fundos

Apaixonados

Delirantes

~

O fundo escuro da floresta pulsa e chama-te

Não a que adentres

Mas a que te tornes bosque

~

Com as mãos feridas e a pingar

Molho e sangue

Deixas-te ficar aqui no limiar

Pacientemente apesar da urgência

A recordar como ser lugar de novo.

🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência. 

Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.