O meu compromisso é com os lugares

Os feridos

Os esquecidos

E enfraquecidos

Os negligenciados

E os silenciados

~

O meu coração segue o luto dos corpos-contaminados

Da asfixia

Dos detritos

E dos baldios

~

O meu afecto escuta os gritos

Estéreis

Intoxicados

Envenenados

Áridos

~

Dedico-me a estar-com os lugares

Os que não são inspiradores

Belos ou de tirar o fôlego

Mas os que gritam e ninguém escuta

Os esventrados

Arruinados

Reduzidos

Aniquilados

~

Apesar da crueza da sua dor pela constante violência,

extractiva, exploradora, sem reciprocidade e destrutiva

Os lugares sufocados continuam a ancorar-nos

Persistem a suster a nossa vida mamífera.

~

Ofereço-lhes a minha humilde atenção

Toco na sua soberania e dignidade

Sonhamos e imaginamos em conjunto

Acolho as suas memórias

Abrigo a sua potência

~

Olho nos olhos de algo que não tenho a certeza de querer saber

Sem classificar ou conter

Percebo a instabilidade e a permeabilidade

A metamorfose

~

Seguro o paradoxo e a responsabilidade do “eu destruidor da Natureza” e do “eu amante da Natureza”

Sou ambos

Somos ambos

~

O território nunca foi estável

Os corpos-lugar sempre foram porosos

Olhamo-nos nos olhos e coração sem desviar o olhar

Contaminado ou não, sempre foi o nosso lugar…

🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência. 

Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.