O meu Cérebro no Mito

 

O meu cérebro no mito…

não pensa em linhas retas.

Curva-se.

Incha.

Vagueia como um rio na época das cheias

em camadas, sensorial e vivo.

Lembra-se

de como pensar com o corpo,

de como costurar a linguagem ao batimento cardíaco

e os passos ao solo.

O mito reavivou a minha cognição.

Estendeu a minha capacidade de atenção

para algo como presença

pulsação, escuta.

Agora,

os meus pensamentos são como marés.

Entrelaçam a memória com musgo,

a dor com pedra,

o mito com movimento.

Não penso para obter clareza ou lógica

mas coerência rítmica.

Ouço com a pele.

Sonho em emaranhados.

Penso em estações.

O meu cérebro no mito…

já não me pertence.

Emaranha-se.

Com verbos, não substantivos.

Com criaturas, não categorias.

Desaprendeu o domínio.

E escolheu o parentesco.

A improvisação.

O mistério.

O mito descolonizou a minha mente

das tiranias do progresso,

da rigidez,

da separação.

Agora o mundo pensa através de mim.

O mito não é uma metáfora.

É a coisa.

A respiração.

O solo.

A ferida.

O rio.

Este cérebro

banhado de mitos e poroso

já não explica.

Sintoniza.

Enlaça.

Tece.

O meu cérebro no mito não pensa em linhas retas. Serpenteia como um rio na época das cheias — em camadas, sensorial, recursivo. Lembra-se de como pensar com o corpo, como costurar a linguagem com o batimento cardíaco e os pés pressionados contra o solo. O mito é como uma teia de fumo de cognição, estendeu a minha capacidade de atenção além da produtividade e da precisão, para pulsos e presença. Os meus pensamentos tornaram-se marés, entrelaçando a memória com musgo, a dor com pedra, o mito com a respiração. O meu cérebro em relação ao mito já não procura clareza ou lógica, mas coerência rítmica. Agora ouve com a pele, sonha em emaranhados, pensa em estações e metaboliza o significado em digestões lentas, confusas, férteis, vivas.

O meu cérebro no mito já não é meu. É um co-devir, entrelaçado com verbos e criaturas em vez de substantivos ou categorias. O mito desaprendeu-me do domínio, substituindo-o por afinidade, improvisação e confiança no mistério. Desestabilizou a cognição das tiranias da rigidez, pureza, progresso e separação. Criou espaço para o mundo vivo pensar através de mim. O mito, aqui, não é uma história que conto, mas uma teia que respiro, um manto de florestas antigas, montanhas fumegantes e oceanos selvagens. Não é uma metáfora para outra coisa, é a coisa, que fala através de árvores, sintomas, silêncios e histórias que se recusam a ser resolvidas. Este cérebro já não é meu, está cheio de mitos, fronteiras e caixas abertas e desarrumadas. Tenta sintonizar-se e pertencer.

🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência. 

Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.