O Colo
Imagina esperares que alguém
Seja sempre inspirador
Que esteja sempre lá para te suster
Amparar
Acolher
Compreender
Alimentar
E Escutar
~
Suspeita que esta vasta relação
Alimenta os teus sonhos
Nutre a tua imaginação
Conta-te histórias
Canta-te melodias
~
Considera não veres,
nem quereres saber
ou conhecer quem tanto te dá
Ignorando as suas necessidades
Complexidades
Sombras
Vontades
Ou
Motivações
Somente projectas as tuas necessidades,
sem nunca te lembrares de reciprocar
Somente exiges
Reivindicas
E reclamas o seu apoio, de recursos a inspiração
~
Imagina que nem sabes o seu nome
~
Mas sempre contas e esperas pela sua vasta presença invisível
A sua postura nutridora
O seu colo aberto
~
Pois este alguém tem sempre espaço para ti
Quando estás cansado
Exausto
Doente
Ou quando estás feliz
Alegre
Ou satisfeito
~
Culpas o seu lado monstruoso
Mas ignoras a tua responsabilidade
Numa relação de violenta e constante extração
~
Quantas vezes
Contas histórias às montanhas
Cantas para as árvores
Danças com as águas
Viajas com o vento?
~
{para assumir quão esgaçada e cortada é a nossa relação com os lugares que habitamos, uso a metáfora do lugar-pessoa que nos ampara a todo o momento, com ar, água, alimento e beleza; a relação mais vasta e permanente que conheceremos ao longo da vida – pela limitação do antropocentrismo, é mais fácil perceber a unilateralidade da nossa relação se o referente for outro ser-humano; farias o mesmo com outra pessoa? Quão irresponsavelmente tudo exigimos, sem nada em troca, sem um momento de escuta ou apreciação, carinho ou gratidão. Sem aprender as suas peculiaridades, sazonalidades ou complexidades, impossibilitado a reciprocidade e regeneração – mantendo-nos aprisionados numa relação desequilibrada que só tira. Sem procurar a dignidade dos vastos e complexos sistemas vivos que nos emprestam a vida.}
🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência.
Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.