Melusina
Tal como as Mouras, a Melusina, transforma-se em serpente, recordando a linhagem ofídia nativa desta geo-oceanografia — a deusa serpente primordial Ophiussa, conquistada por Ulisses. Melusina, também faz parte de um relato mítico heráldico e muda de forma para uma serpente enquanto toma banho em dias santos.
A metamorfose destas fadas em serpente é uma expressão da sua antiguidade, ecoando na lenda de Melusina, um espírito feminino de água doce residente em poços sagrados ou rios e uma figura do folclore medieval europeu.
É geralmente representada como uma mulher que é uma serpente ou peixe da cintura para baixo (tal como uma sereia ou uma lâmia). A versão literária mais famosa dos contos Melusina foi compilada entre 1382 a 1394, por Jean d’Arras, numa colecção de “fios para fiar”, detalhando a relação desta fada-serpente com o cavaleiro Raymondin, desde o encontro inicial até à sua separação, pela violação da interdição do marido nunca a poder ver a tomar banho ao sábado quando ela se transforma em serpente. A imagem e transmutação arcaica de Melusina ocorre com eco às Sheela-na-gig, esculturas figurativas grotescas, parte serpente ou peixe, de mulheres nuas exibindo uma vulva exagerada, encontradas esculpidas em pedras, na maior parte da Europa em catedrais, castelos e outros edifícios.
Ligam-se às meretrizes devoradoras, que usam a luxúria e os chamamentos induzidos pelo transe orgíaco, ligados aos ritos místicos sexuais. Há dois tipos de fadas da Água primeva na sabedoria europeia: a Morgana, que derrotará o seu amante e a Melusina, que gerará a sua descendência. Noivas-animais que de formas diferentes mantêm a ligação homem-natureza.
{Texto adaptado dos livros Contos da Serpente e da Lua e Santuário – Ensaios de Ecomitologia}
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🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência.
Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.