Ficar fora das relações multi-espécie

 

Talvez sem nos apercebermos

Ficámos de fora das relações multi-espécie
Encarcerámos o nosso alcance, sensibilidade e formas dinâmicas de relacionamento
Rejeitámos o parentesco com outros seres que não os humanos
Limitámos a nossa capacidade de sentir
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Impiedosamente silenciando um mundo que de outra forma seria vibrante,
aprisionando-nos num ciclo patológico de obsessões individualizadas, centradas no ser humano
Insaciáveis e exigindo que relações tão limitadas de nos deem o que precisamos
Presos numa monocultura fragmentada de constrangimentos afectivos

~
Mas o desejo de pertença continua a rugir
Perdidos num mundo desarticulado
Sempre com fome de mais
Anestesiados e incapazes de interagir
Deixando-nos sozinhos e perdidos
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Esquecendo a diversidade pulsante que nos torna humanos
Negligenciando e negando o nosso núcleo primordial mamífero
Carne, osso e sangue que cantam com as estrelas
Gostam de mergulhar nas memórias do tempo profundo das águas 
E estremecem ao roncar com o chão lamacento
Ecoando ritmicamente as muitas vozes que fazem o Mundo

Para sermos humanos sempre o fomos e tornamos em conjunto com todos os outros-não-humanos.

~

{Escrevo a partir de um contexto urbano e de baixa intensidade no norte global, com consciência e responsabilidade pelo ecocídio e genocídio perpetrados pela modernidade; de onde venho, o legado cultural normalizado é profundamente colonial, num brutal e autoimposto exílio da psique eurocêntrica através do excepcionalismo hierárquico e individualista.}

Um pequeno grito-oração inspirado na obra fundamental e brilhante de Telma G. Laurentino enquanto nos preparamos para a nossa apresentação no Becoming Monster Festival.
Junta-te a nós na sexta-feira, 1 de novembro, para a Ecologia Mítica dos Monstros (em inglês) online – 9:00 – 11:00 CST | 15:00 – 17:00 UTC

🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência. 

Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.