Entre o Mapa e o Território

Não pretendo definir ou limitar a vossa perceção individual sobre estes conceitos, quero apenas trazer esta ideia do mapa como um modelo, mais vivo ou inerte, e o território como o próprio corpo, ou a própria relação direta e não mediada entre as coisas.

Temos as várias dimensões de saber e de interação com a realidade, que no contexto cultural onde nos encontramos nos leva à lente da unilateralidade das várias dimensões do nosso ser ou pelo menos na sua valorização.

A imaginação não é a única percepção desvalorizada do nosso ser, temos também a consciência holística, o espírito, a alma e o coração, portais diferentes de acesso à diversa realidade das coisas. Portais não hierárquicos ou polarizados, numa limitação a preto e branco entre certo e errado, pois este é o convite à diversidade.

Todos temos muitas formas de olhar para uma coisa, muitas maneiras de interagir e co-criar a nossa própria realidade.

E nada disto é apenas centrado na mente, onde tudo o que não seja palpável, planeável ou objectivo, não existe ou não é valorizado. O que é um enorme problema criando enormes paradoxos internos, pois, esta forma de estar, ser e ver o mundo torna-o mudo. Quando apenas procuramos o valor da produtividade, factual, quantificável e objectiva.

Ora a objetividade tem a ver com retirar o contexto às coisas e, ao desvinculamos tudo do contexto, retiramos-lhe vida e usamos tudo para o nosso limitado benefício (de curto prazo).

É aqui que o discurso cultural se torna insidioso e desvinculado: interpretando a Terra – paisagens, lugares, ecossistemas, biosfera – apenas como recurso inerte e só e apenas em função do que é directamente útil aos humanos.

Em vez da Terra como abraço, fonte, origem e base essencial de toda a vida. É daquelas violências surdas que alguns sentem na pele, no corpo e nos ossos, quando dialogamos com os lugares que ousamos ouvir. Sentimos o seu grito, pois não são passivos ou inertes, nem mudos. Qualquer paisagem têm toda uma história, algo não verbalizado, mas sentido. Não é por acaso que procuramos esses lugares que residem no nosso coração e memória, se não conseguimos estar neles temos imensas saudades, a falta de algo.