Emoções Ecológicas
As Emoções Ecológicas são um território vivo e paradoxal, que vive no corpo e nas relações mais vastas com todos os não-humanos. Essencialmente são profundamente invisíveis, culturalmente desvalorizadas e visceralmente caladas.
Num contexto cultural profundamente antropocêntrico e hiper-individualista não temos palavras ou articulação para sequer reconhecer a sua existência. Assim, estas emoções viscerais e avassaladoras passam despercebidas, não tendo contornos definidos ou espaços seguros onde possam ser experimentadas, expressadas e muito menos validadas. Encontro frequentemente uma profunda iliteracia das emoções ecológicas, que se manifesta através de um complexo tabu cultural. Uma membrana densa de silenciamento e invalidação das emoções ecológicas, viscerais e relacionais. Apesar da sua complexidade, estas emoções não são novas, mas desafiam-nos colectivamente a acolher o que normativamente tendemos a deixar de fora. (in BATALHA, Sofia. Culpa, Mágoa e Raiva in {cadernos de oikos-psykhē} – Volume I – Ecopsicologia, Edição de Autor. ISBN: 978-989-9152-73-1. 2024)
Nos processos e desaprendizagens vivas de Ecopsicologia e Eco-Mitologia falamos e experimentamos a dor e o luto. Ao longo dos ciclos e camadas de desaprendizagem de Ecopsicologia e Eco-Mitologia, alguns participantes perguntam “o que fazer com esta dor?”; paradoxalmente também referem como descobrem novos recursos, relações e articulações, vividas e sentidas, de palavras e conceitos, que permitem navegar pelas águas bravias e perturbadoras do luto e da dor. Algo que vai contra o grão de tudo o que nos ensinaram a fazer, pelas múltiplas formas de tapar, silenciar e ignorar o que dói. (in BATALHA, Sofia. Falemos de Dor in {cadernos de oikos-psykhē} – Volume I – Ecopsicologia, Edição de Autor. ISBN: 978-989-9152-73-1. 2024)
Muitas pessoas que estudam comigo referem:
- “sempre me senti assim, mas não tinha as palavras para me expressar.”
- “sentir como válidas as minhas emoções com os lugares trouxe-me mais alento.”
- “foi como voltar a casa, onde o que sinto e trago no peito foi reconhecido e honrado.”
- “é a primeira vez que encontro um espaço onde estas emoções podem ser expressas e válidas por si mesmas.”
Estas emoções, as ecológicas, não são diferentes das que estamos habituados a sentir (e que constantemente desvalorizamos, mandamos para longe ou fechamos numa caixinha). São tão banais como a nossa raiva ou luto, tão urgentes como a nossa alegria e amor. Nunca fomos máquinas numa caixa impermeável de onde vemos o mundo lá fora e lá longe.
Somos corpo, somos chão e estrelas, somos floresta e deserto, micélio e raiz.
É necessário resgatar o caleidoscópio de emoções e afectos que nos ligam onde estamos. É importante dar voz a estas emoções que não seguem as limitadas linhas do humano, mas que ressoam e vibram com relações mais fundas e largas – as ricas e selvagens relações ecológicas. Quando o permitimos, estas emoções expressam as relações mais primevas que temos, relações de amor, pertença e soberania. Seja com a árvore aqui mesmo ao lado, com o ribeiro ou a serra debaixo dos pés. O afecto de corpo mamífero em simbiose com o território que habita.
Dignificar, valorizar ou assumir as relações e emoções ecológicas, aquelas que nos ligam ao território vivo, é essencial para voltarmos inteiros em tempos de crises profundas.
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🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência.
Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.