Feliz Solstício de Inverno!
🌚 Inteligibilidade e comunicação com os mais-que-humanos.
🌚 Relativamente a profecias, adivinhas e parábolas e à forma como tocam o coração.
🌚 Sobre nem sempre ser claramente compreendido, nem compreender tudo linearmente.
🌚 Sobre a necessidade profunda de ser genuinamente indecifrável e ininteligível.
🌚 Sobre a mudança de forma através do discurso vivo centrado em contextos reais.
🌚 Acerca do paradoxo necessário das raízes contextuais abertas.
🌚 Sobre o deixar cantar a escuridão.
Normalmente procuramos a clareza. As nossas psiques binárias e stressadas pensam que só podem relaxar através da clareza, conclusão e controlo da solução – embora “clareza” signifique captar um momento, encaixotando o desconhecido rotulando-o. Mas a escuridão liberta as categorias e os limites.
Há alguns meses, um Rabiruivo falou-me num fim de tarde.
O seu corpo minúsculo, com o seu peito de penas ocres, vibrava enquanto cantava, numa grande variedade de melodias e sons, empoleirado numa parede.
Ele falou, e eu ouvi.
A mente binária tende a pensar que a clareza e as conclusões lineares são a única razão ou forma de comunicar – o Rabiruivo cantou, e eu não compreendi uma palavra. No entanto, escutei. A vibrar pelo desenrolar da relação cantada. E falou com todo o seu corpo vibrante.
Ele cantou.
Olhou para mim com o seu corpo minúsculo e das suas penas e continuou a cantar. Fiquei hipnotizada de espanto.
Por isso, continuei a ouvir.
Somos vizinhos e vivemos no mesmo bairro, mas eu nunca estive tão perto dele.
É aqui que a clareza se interpõe na forma de comunicação.
A comunicação é sobre pertencer, e é sobre estarmos juntos.
Não percebi uma palavra. Mas eu ouvi-o. E até hoje, a sua canção permanece comigo.
Portanto, a minha pergunta é: o que perdemos se apenas nos esforçarmos por clareza?
O que esquecemos se estamos sempre a tentar ser inteligíveis?
A linguagem simbiótica das relações é intersticial e não-verbal.
E se houver uma “clareza ininteligível“? Sempre contextual, enraizada no lugar e na ecologia, nichos, habitats e padrões climáticos, topografia e cultura, imaginação e sonhos. Devo também recordar as tradições arcaicas translocais da observação de aves oracular como parte da alfabetização eco-sistémica sazonal de qualquer lugar dado. A ligação directa e a relação simbiótica com a terra e as águas formam as espessas camadas míticas das culturas contextuais. Esta é uma sabedoria antiga.
🌚 E se, quando perdemos coisas ininteligíveis, nos desintegramos?
🌚 E se, quando perdemos coisas incompreensíveis, perdemos as pontes para o mistério?
🌚 E se, quando abdicamos de reinos indecifráveis, a escuridão nos engole? Em vez de segurarmos e alimentarmos os nossos sonhos e presságios?
🌚 Que escuridão é o fio ininteligível da criação?
🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência.
Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.