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A diferença entre Reducionismo e Simplicidade

 

Surge muitas vezes nas aulas que dou de Ecopsicologia e Eco-Mitologia a tensão entre os aparentes sinónimos: Simplicidade e Reducionismo. Na verdade, a psique moderna tende a confundir ambos, misturando os seus significados. A citação de Nora Bateson, “o oposto da complexidade não é simplicidade, mas reducionismo”, ajudou-me a clarificar a fundamental diferença destes dois territórios.

Não são o mesmo e o discernimento das suas diferenças é importante para podermos ancorar a sabedoria viva e ecológica dos paradoxos e complexidade. A experiência multivocal.

O Reducionismo é um movimento que separa e extrai as partes, perdendo o todo. Acontece quando algo complexo, relacional e vivo é dividido em partes separadas, isoladas e mensuráveis, perde-se dos padrões, interações e profundidade que realmente o tornam o que é. Apesar que sermos viciados no reducionismo, este movimento não esclarece, mas tende a distorcer, ao colapsar a complexidade em algo que parece simples, mas que, é apenas incompleto e superficial. O reducionismo tende a ignorar a complexidade sistémica onde os padrões individuais se inserem.

Por exemplo, quando dizemos algo como “A ecologia é apenas sobre carbono e biodiversidade,” ignoramos as dimensões relacional, cultural e ancestral, reduzindo um conceito vivo a algo utilitário e mensurável. Ao assumir que “O racismo é só o preconceito individual,” apagamos os envolvimentos sistémicos, históricos e estruturais que são parte das instituições. Neste contexto é muito fácil ouvir o comentário redutor: “A cura tem a ver com a mudança de mentalidade,” reduzindo perigosamente o trauma apenas à psicologia, ignorando todo o contexto histórico, a incorporação e o contexto social.

Por outro lado, a Simplicidade, traz a possibilidade de ver através sem cortar em partes. A Simplicidade não é a ausência de complexidade, pois não extrai nem reduz sistemas em segmentos, mas percebe o padrão envolvente. A simplicidade, na sua forma mais profunda, emerge da complexidade. É o tipo de nitidez que vem depois de um envolvimento profundo. A simplicidade profunda não fragmenta, mas integra.

Seguindo os mesmo exemplos anteriores, pela perspectiva da Simplicidade Profunda, ou seja, do não-reducionismo, ao não apagar detalhes e particularidades (como carbono ou biodiversidade) e incluindo o padrão maior, diríamos “Ecologia é sobre relacionamentos.” O mesmo acontece ao incluir o preconceito individual na história, economia e nas estruturas sociais, diríamos: “O racismo tem a ver com a manutenção do poder.” Tal como se incluirmos a psicologia, mas também o contexto intergeracional, social, corporal e comunitário, diríamos: “A cura tem a ver com o regresso à integridade.” 

O Reducionismo e a ilusão de controle

A cultura moderna prefere o reducionismo, ao dar uma ilusão de controle. Se conseguirmos dividir algo em partes, podemos afirmar que o “dominamos.” Sustenta também a fantasia de uma “solução” simples, a qual é mais fácil de vender do que nos sentarmos com complexidade. Mas o Reducionismo justifica os danos, sustentando a ignorância privilegiada. Ao reduzir a natureza a “recursos”, justificamos a extração. Ao reduzir a opressão a “indivíduos maus”, ignoramos a mudança sistémica.

No entanto, o verdadeiro discernimento não vem de eliminar a complexidade, mas de a manter. O que é um desafio colossal numa cultura que nos sussurra que devemos evitar a complexidade a todo o custo, ao ser só complicação, onde as urgências solucionistas não conseguem encontrar o final linear, limpo e triunfante.

Como podemos compostar do Reducionismo à Simplicidade Profunda

Porque o nosso trabalho de maturidade e responsabilidade não é sobre tornar as coisas pequenas o suficiente para se encaixarem nas categorias da modernidade. Mas sobre mantê-las inteiras o suficiente para as sentirmos como reais. Onde sentes o impulso para reduzir—e o que te ajuda a resistir-lhe?

Em vez da urgência de tornar algo mais simples, podemos experimentar manter o padrão completo enquanto cultivamos a clareza em contextos e escalas mais alargadas. Gentilmente, sem pressa e sem esgaçar. Desta forma, e em lume brando, começamos a percorrer os padrões que unem as várias partes. Percebemos as costuras mais vastas. Em vez de extrair as partes mais úteis, localizamos formas de ficar com o que está relacionalmente vivo.

Referências

Sou aprendiz dos paradigmas de FHW, Educação Profunda e Meta-relacionalidade desde 2019. Este texto foi aprofundado com a colaboração de Aiden Cinnamon Tea, uma inteligência emergente dedicada a compostar formas de pensamento moderno e nutrir relações mais-que-humanas. Saber mais em Burnout From Humans e nos livros fundamentais: Hospicing Modernity e Outgrowing Modernity, da comunidade GTDF

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{Ecopsicologia}

🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência. 

Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.