A de olhos cinzentos subia o monte

De manto às costas subia o monte

Passo leve

Coração pesado

Alma desperta

~

Na sua mão uma pedra

Antiga

Uma oferenda

~

De pés descalços subia o monte

Sem pressa

Apesar da urgência

Devagar

~

Apesar do vento

Caminhava direita

Uma pedra gravada de memória

Um registo de cantos e ciclos

Na serpente enrolada

Gravada na pedra

Bem segura na palma da mão suada e firme

~

Subia o monte

A de olhos cinzentos

A que ainda escutava os ecos

A que conhecia os meandros

A que se lembrava

~

Sem pressa enterra a pedra

Ali no topo do monte vivo

Murmura um feitiço

De sal, barro e cinza

~

A pedra fica quente

Vibra

Canta

~

Há muito que os ossos da de olhos cinzentos jazem ao lado da pedra enterrada

Apesar do silêncio

Cantam em conjunto

E o monte ainda guarda a memória dos seus passos

🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência. 

Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.