
TEMPO DE LEITURA – 5 MINUTOS
TEMPO DE INCORPORAÇÃO – UMA VIDA INTEIRA!
Quem seríamos como cultura, se contássemos histórias desde o parentesco, da dignidade e responsabilidade. E não desde o medo e competição?
E se as histórias que contamos nascessem do parentesco e não da separação? Se, em vez de ensinarem que o mundo está aqui para ser vencido ou compreendido, nos lembrassem que somos parte, tecidos com ele?
Contar desde o parentesco é reconhecer que vivemos numa rede de relações contínuas, entre humanos, animais, plantas, rios e ausências. É recusar a lógica do domínio e do herói solitário, que desfiei n’O Vazio Nunca Foi Vazio, e regressar aos idiomas do lugar. Onde escutar o solo é mais importante do que vencê-lo e a dignidade é uma qualidade partilhada entre espécies.
Num mundo onde o medo e a competição moldam as narrativas fundacionais da cultura dominante, desde a epopeia do progresso à sobrevivência do mais forte, o que perdemos é a memória de pertencermos. Como trago no ensaio Ecologia e Folclore do Medo, há muito que a natureza deixou de ser um parente e se tornou um palco de projeção ou uma ameaça a ser dominada.
Recontar a partir da responsabilidade seria abrir espaço para outro tipo de escuta: aquela que reconhece que viver em comunidade, humana e não-humana, exige cuidar do impacto dos nossos gestos e da profundidade dos nossos legados.
Talvez, se as histórias fossem contadas assim, tivéssemos menos pressa em “resolver” e mais disponibilidade para permanecer, mesmo quando há fricção, silêncio ou ambiguidade. As Quatro Peles dos Contos Eco-Míticos sugerem haver camadas de sentido que só se revelam quando deixamos de olhar para os contos como metáforas distantes e os vivemos como mapas somáticos e relacionais.
Seríamos uma cultura que, em vez de construir muros, teceria pontes. Que saberia que a dor não é fracasso, mas travessia. E que amar o mundo é um compromisso diário, situado, imperfeito, mas pleno de relação.
Narrativas de respeito não precisam do medo para manter a reverência viva. Podemos honrar o rio sem que ele nos ameace, podemos escutar a raposa sem que ela precise vestir a máscara do demónio. Contar com dignidade é permitir que cada ser retenha o seu mistério, sem que isso implique hierarquia, romantização ou terror. Imaginar crescer numa rede viva de contos enraizados no parentesco é imaginar um mundo onde a criança aprende desde cedo que o musgo tem nome, que as pedras escutam, e que a linguagem da vida pulsa muito para além da fala humana. Neste chão narrativo, a vida não é recurso nem símbolo a ser interpretado, mas presença a ser respeitada, sentida e co-criada em sabedoria sazonal e local. É aqui que poderia florescer uma cultura não de domesticação ou extração, mas de convivência em ressonância.
E talvez, nesse mundo narrado com vínculo, a própria realidade se tornasse mais fértil, menos sobre o que podemos controlar, mais sobre o que podemos cuidar.

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