
2 MIN LEITURA
“Outubro quente, traz o diabo no ventre.”
🍂 O Outono Boreal
A origem da designação de “Outono” enquanto fase do ano é discutível. Vem de tempus autumnus, possivelmente “tempo do ocaso.” Contém a ideia do pôr do sol, queda, declínio, ruína ou fim dos longos dias de sol que caminham para os rigores do inverno. Vislumbramos agora o nevoeiro da velhice, o amadurecimento dos frutos e da vida, as folhas secas que caem, e os ventos gelados das longas noites invernais. É um tempo fronteira, um umbral de transição para a sombra da noite fria. O necessário desprendimento para a descida dói, mas também nos faz voltar.
🍂 O Equinócio de outono — aequus “igual” + nox “noite” — quando tanto Perséfone é raptada por Hades para o submundo e Atégina se entrega ao chão negro e nutritivo de Endovélico, é a altura da safra, das colheitas. Da preparação para os rigores do inverno.
🍂 No hemisfério norte, tradicionalmente de Agosto a Outubro, muitos calendários míticos falam deste processo de reflexão, rendição e entrega, mas também de abundância.
Entre os Gregos temos Xarpo (Carpo ou Karpo), a deusa do outono e das colheitas. A suas irmãs, Talo e Auxo, eram as deusas da primavera e do verão. As três irmãs assistem de Afrodite, e guardavam o caminho para o Monte Olimpo. Xarpo era a responsável pelo amadurecimento das colheitas.
Também ocorre nesta altura o Festival de Dionísio, com a colheita dos primeiros frutos e Vinho, com os seus rituais extáticos.
Temos o Mabon celta, associado à divindade do sol. A Deusa Mãe da Terra do País de Gales e possível deusa gaulesa Dea Matrona, são personificadas na deusa celta do outono, das colheitas e da magia, Modron, a mãe do deus romano-britânico Maponos, cujo nome significa “Grande Filho.” Modron é a deusa da colheita e da fertilidade, trazendo os grãos, nozes, folhas, bolotas, coroas de flores, maçãs, uvas, vinho, cabaças, cornucópia, malmequeres, a espiral dupla, o lúpulo, o funcho e os cogumelos.
🍂 Mas, o ditado meteorológico português avisa: “Outubro quente, traz o diabo no ventre.” Trazendo maiores desafios para a primavera seguinte, mais secura e plantas menos viçosas. Se o frio não vem, os frutos da primavera não crescem.
🍂 Quando compreendemos que muitos mitos e adágios antigos falam da sabedoria eco-sistémica intergeracional, sendo cartografias míticas dos complexos padrões cíclicos e das mudanças sazonais, recolhidas ao longo de milénios, entendemos a gravidade dos avisos sobre mudanças aparentemente pequenas. Quão atual é este aviso arcaico para um país como Portugal, hoje constantemente assolado por incêndios e secas severas e intermináveis?

Outros Artigos de Eco-Mitologia
-

Ensinamentos da Tempestade
-

Para Lá do Sapatinho de Cristal
-

Dentro do Espelho
-

Ecologia e Folclore do Medo
-

O Clima são muitos Corpos
-

Sintoma e Oráculo
-

Ophiussa
-

De volta às Sereias
-

Lobo – Criador e Professor
-

A Psique Mítica como prática de escuta porosa
-

Corpo de deus — Corpo da Terra
-

À beira da floresta queimada
-

O Tear
-

Corpos que Escutam
-

Entre o Linho e a Constelação
-

Calendários de Penas e Mantos Roubados
-

Deusas Tóxicas
-

Debaixo da Barriga Suave de Inanna-Ereshkigal
-

Desaprender ser Boa Pessoa
-

A Psique Não-Autóctone e a Psique de Plástico
-

E se o Mito nos Observa?
-

A Torre
-

Activismo Eco-Mítico
-

A Lógica da Batata
-

Cerimónias esquecidas
-

O esqueleto totémico e os contos envoltos em micélio
-

Os contos como mapas para além da psicologia humana
-

Melusina
-

Encantar o Monstro
-

Ataegina, Teixo e Tejo
-

O Nectar de Siduri
-

A Menina Cabra – Belinda e Benilde
-

Ensinamentos da Tempestade
-

Para Lá do Sapatinho de Cristal
-

Dentro do Espelho
-

Ecologia e Folclore do Medo
-

O Clima são muitos Corpos
-

Sintoma e Oráculo
-

Ophiussa
-

De volta às Sereias
-

Lobo – Criador e Professor
-

A Psique Mítica como prática de escuta porosa
-

Corpo de deus — Corpo da Terra
-

À beira da floresta queimada
-

O Tear
-

Corpos que Escutam
-

Entre o Linho e a Constelação
-

Calendários de Penas e Mantos Roubados
-

Deusas Tóxicas
-

Debaixo da Barriga Suave de Inanna-Ereshkigal
-

Desaprender ser Boa Pessoa
-

A Psique Não-Autóctone e a Psique de Plástico
-

E se o Mito nos Observa?
-

A Torre
-

Activismo Eco-Mítico
-

A Lógica da Batata
-

Cerimónias esquecidas
-

O esqueleto totémico e os contos envoltos em micélio
-

Os contos como mapas para além da psicologia humana
-

Melusina
-

Encantar o Monstro
-

Ataegina, Teixo e Tejo
-

O Nectar de Siduri
-

A Menina Cabra – Belinda e Benilde












































