Cada indivíduo é muito mais do que o individualismo permite.  (…) Sugiro que somos teias complexas da história do lugar, género e ancestralidade em constante crescimento e mudança. Num paradigma individualista, estamos em negação sobre estas tremendas fontes de inspiração, apesar de ainda estarem disponíveis para todos nós.

– Jürgen Kremer, Etnoautobiografia

 

👉 Neste paradigma somos levados a pensar que tudo se passa dentro. Dentro de nós e da nossa psique, que só temos de controlar e conquistar as emoções. Que tudo depende da nossa perspectiva interna sobre as coisas. Que só somos livres ou bem sucedidos se apenas quisermos. Mas esta é apenas uma crença cultural, antropocêntrica, meritocrática e hiper-individualista, uma perspectiva de alienação. E sim, claro, muito se passa nos nossos universos internos: as nossas visões, pontos-cegos e percepções são moldadas pelas crenças, traumas mas também por todo o contexto de vida. Achar que tudo é apenas dentro é a mesma coisa que sugerir a um escravo: “serás livre se assim o sentires, a liberdade está dentro de ti.”

👉 E é aqui que quero chegar: NADA é apenas dentro. Impossível essa separação num pluriverso sistémico, híbrido e poroso. Como seres biológicos somos constantemente fertilizados pela meteorologia, geografia, poesia, topografia, história, flutuações de poder e por toda a ecologia que nos forma e transforma a cada momento. A cada inspiração. Contribuímos também a cada expiração.

👉 Achar que tudo é “dentro,” é silenciar tudo à volta como opcional ou supérfluo. É calar as relações que directa ou indiretamente nos fertilizam e desafiam a todo o momento.

👉 Como refere Jürgen ao negarmos estas fontes de desafio e alumbramento tornamo-nos  menores, fechados nas ilusões de excepcionalismo apenas humano, sem tocar o limiar criativo da própria Vida.

👉 Que possamos reconhecer o valor do “fora,” a importância do contexto. Que possamos relembrar o diálogo que ocorre na fronteira limiar entre o fora e o dentro.

 

🌳 Vários livros de diversos territórios, lugares de resgate da polimorfa Imanência. 

Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.