Memórias e Feng Shui

A leitura do interior da Casa

Originalmente o Feng Shui tratava da paisagem, desde a sua veneração, ao seu planeamento e organização, mantendo os habitantes em segurança e protegidos.
No entanto, há cerca de duas centenas de anos começou, esta arte passou a ser adaptada e usada no interior. Enfim, como uma adaptação que vai buscar o princípio do macrocosmo e microcosmo. Neste sentido, a adaptação cria um novo sistema, que se revê na noção de que o macrocosmo exterior da paisagem vai reverberar com o microcosmo interior da estrutura, ambos influenciando os habitantes.
Quando o interior da casa começa também ter algo dizer, cria-se aqui uma relação intermédia. Afinal, assume-se que estrutura em que vivemos tem também as suas próprias características, num microcosmos de paisagem envolvente. Obviamente que isso vai influenciar directamente os habitantes, sendo simultaneamente influenciados por eles.
Assim sendo, é da leitura intermédia do espaço construído, que nasce o Feng Shui que utilizamos hoje, mais focado no interior da casa. Ainda para mais, hoje em dia passamos mais 80% do nosso tempo dentro de paredes.

Mais do que nunca, estas paredes influenciam-nos. Mais do que nunca é importante ter a noção do que o que lá temos moda como nos expressamos

As primeiras Memórias e Feng Shui

Desde a nossa origem, que nos envolvemos experimental e emocionalmente com a paisagem. Logo, o mesmo acontece com o microcosmo da nossa casa, ainda que numa escala menor. Dentro da nossa casa, conseguimos reproduzir poderosas emoções, às quais nos ligamos, de forma consciente e plena, alinhando-a com o nosso propósito.

Para tal, é necessário temos uma noção clara do que expressamos na nossa casa, assim como do que lá se encontra. Afinal, o que lá guardamos e como usamos e experimentamos o conteúdo da nossa casa. Enfim, como estão ligadas as nossas memórias ao Feng Shui?

Mais do que paredes, as nossas casas são construídas de memórias

Memórias que contam histórias, a nossa e outras, interligadas

  • A origem da memória

A palavra memória vem do latim, de MEMOR, “aquele que se lembra”, de uma raiz Indo-Europeia MEN-, “pensar”, que nos deu também “mente”. Assim como do grego “mnemis“. Em ambos os casos a palavra significa a conservação de uma lembrança. Para os gregos a memória estava coberta de um halo de divindade, pois referia-se à deusa Mnemosyne, mãe das Musas, que protegem as artes e a história.

  • A memória na nossa casa

Logicamente que concordará comigo quando lhe digo que tudo o que temos em casa, contém memórias. Aliás, há duas razões para trazermos objectos para casa, uma prática e outra e emocional. Sendo que a última, está geralmente ligada à preservação de memórias.
Claro que as memórias nos constroem, sendo referências de quem somos. No entanto, também nos podem destruir. Sobretudo, se ficamos demasiado agarrados ao que passou e deixamos de ser capazes de evoluir e de nos adaptar, repetindo eternamente padrões que já não nos servem.

  • Memórias e Feng Shui: O grande desafio

Um dos grandes desafios das memórias é que são transferidas involuntariamente para os objectos que fazem parte da nossa casa. Não se esqueça, que os objectos tridimensionais carregam mais memórias do que uma fotografia, exactamente pela sua capacidade de serem tocados. Assim sendo, as memórias que os objectos da nossa casa contem são fortíssimas, graças à sua envolvência energética e emocional. E, claro, convivem diariamente connosco, fazendo parte do nosso ecossistema doméstico, mesmo que inconscientemente.

  • A limpeza

Talvez por isso, uma das grandes dificuldades, aquando da limpeza de espaços acumulados, seja exactamente a ligação emocional aos objectos. Estes itens e estas memórias podem, paradoxalmente, construir e destruir. Muitas vezes, só conseguimos fazer limpezas a memórias contidas num espaço, após ou durante um período desafiante na vida. Por exemplo, depois de um divórcio ou de uma morte.

  • Viver em casas de família

Sem dúvida que para quem vive em casas de família, este é um dos grandes desafios. Casas de família tendem a estar cheias de objetos, assim como memórias, padrões e muitas vezes, com histórias pesadas.

Exercício:

Tem algum objecto que quando passa por ele, lhe lembra de algo, seja uma pessoa ou uma fase menos positiva? Então, permita-se de forma confiante, leve e plena, libertar-se desse objecto. Poderá vendê-lo, doá-lo, reciclá-lo ou até destruí-lo. Outra opção será oferecê-lo.
Uma coisa é certa: não permitia que as memórias menos positivas estejam presentes no seu espaço, controlando ou condicionando a sua vivência do presente na sua construção do futuro.

Aos longo destes quase vinte anos também resgatei partes de mim que tinham ficado para trás, partes que fazem parte da minha integridade e responsabilidade.
👉 Recordei que a sabedoria não é cumulativa, mas uma metamorfose viva e primal. Aprender é multidimensional e multidirecional.
👉 Relembrei que não são as técnicas, modelos ou receitas que nos que dão “as soluções”, mas a própria devoção à Vida.
👉 Se não transformamos é porque não estamos realmente a aprender.
👉 Aprendi que aprender é uma rede dinâmica de percursos que desafiam os nossos lugares-comuns e que falhar não é opcional.
👉 Esta peregrinação trouxe-me ao precioso lugar do reconhecimento de que a aprendizagem não é nem individual, nem apenas humana, mas relacional, contextual e comunitária e em integridade profunda com a ecologia que nos circunda.

Então, sim, deixei de dar formação, e muitos menos certificados de “auto-desenvolvimento” ou “espiritualidade”.

 

❤️ Dedico-me sim à (des)formação e desformatação, num caminho devocional e orgânico de voltar em imanência e de diálogo mais que humano. Em responsabilidade profunda bailamos pela metamorfose que é a Vida em todas as suas cambiantes e acedemos aos seus lugares mais fundos, potentes e frágeis.
❤️ (Des)formamos para que nos encontremos de novo. Formamos chão.